Nem os petistas acreditam que a CPMF seja aprovada
Parlamentares
ouvidos pelo site de VEJA duvidam que governo consiga articular um
acordo para aprovar pacote, ainda mais com a iminência da reforma
ministerial
Por: Ana Clara Costa, de Brasília - Atualizado em
A presidente Dilma Rousseff durante coletiva de imprensa no Palácio do Planalto, em Brasília(Ueslei Marcelino/Reuters)
A presidente Dilma Rousseff convocou senadores da base aliada para discutir o novo plano de ajustes - que consolida um pacote de medidas impopulares cuja cereja do bolo é a ressurreição da CPMF,
o imposto do cheque. Depois de discutir o novo imposto com governadores
de 19 Estados na noite de segunda-feira, e com deputados da base na
manhã desta terça, à tarde a presidente tentou convencer o presidente do
Senado, Renan Calheiros, da necessidade da aprovação do pacote que
eleva impostos e corta gastos. Renan acenou com a possibilidade de
apoio, mas deixou claro que a aprovação não será fácil e que o Congresso
cobrará "metas, resultados e eficiência" do setor público. Dois pontos
são vistos com extrema animosidade por aliados: além da ressurreição da
CPMF, o uso de emendas parlamentares para suprir os cortes no Minha Casa
Minha Vida. Parlamentares petistas ouvidos pelo site de VEJA afirmaram,
nos bastidores, que duvidam que o governo consiga articular um acordo
para amarrar a aprovação do pacote, ainda mais com a iminência da
reforma ministerial, que deve sacrificar cargos, em especial de aliados
como o PSD de Gilberto Kassab e o PMDB. Leia também: Cunha diz que 'CPMF é insuportável'; em reunião, deputado aliado discute com Levy
Se a oposição já foi taxativa ao negar a possibilidade de encampar o
novo imposto, aliados e até mesmo partidários da presidente argumentam
nos corredores do Congresso que o governo não tem uma estratégia bem
definida para conseguir votos suficientes para aprovar a medida, cujo
objetivo é render mais de 30 bilhões de reais aos cofres públicos. Como
se trata de uma proposta de emenda à Constituição (PEC), o governo
precisa angariar ao menos 60% dos votos de senadores e deputados para
conseguir aprovar a volta do imposto do cheque. Isso significa pelo
menos 308 dos 513 votos na Câmara e 49 dos 81 no Senado. Contudo, o
ponto mais delicado, apontam parlamentares, é a falta de um articulador.
Ao convocar reuniões com governadores, deputados e senadores, a própria
Dilma tomou a frente da articulação, deixando o ministro da Casa Civil,
Aloizio Mercadante, em segundo plano. Diante da falta de traquejo
político da governante - e de seu ministro -, a expectativa entre
aliados é de que o embate se agrave, minando ainda mais a credibilidade
fiscal do país. PMDB - Depois da ruidosa saída do vice Michel Temer
da articulação política e dos rumores cada vez mais fortes de rompimento
político com o PT, o PMDB se afastou do varejo de cargos - e caciques
do partido têm ventilado que não há qualquer possibilidade de recuo. A
tal ponto que não há nem sequer um peemedebista em movimentação para
assumir o posto. O mais cotado entre os petistas para assumir a
articulação da volta da CPMF é o ministro da Defesa, Jaques Wagner - que
também vem a ser o nome defendido por Lula. O problema da indicação,
segundo assessores próximos às negociações, é que a presidente vê
dificuldades em definir um substituto petista para Wagner no Ministério
da Defesa. Com o início da construção, ainda este ano, dos caças que o
Brasil comprou da sueca Saab, o Palácio do Planalto não está disposto a
abdicar da pasta em favor de outro partido.
O deputado petista Delcídio Amaral, líder do governo no Senado, falou
que o Palácio do Planalto tem noção das dificuldades, mas que haverá
"trabalho duro" para conseguir viabilizar as propostas. "Eu tenho
experiência em CPMF. Participei em 2007, quando o caiu a CPMF no Senado.
É uma questão que exige muito diálogo, muita conversa, muita capacidade
de convencimento, mas todos nós temos ciência. Se falássemos que seria
fácil, não estaríamos dizendo a verdade. Nós temos a noção nítida das
dificuldades que temos de enfrentar", afirmou. Leia mais: Quem aprova CPMF é o Congresso, não o governo, diz Dilma
Já o senador petista Humberto Costa, líder do partido na Casa,
avaliou que a medida de repatriação de recursos, que deve ser votada no
Senado em breve, poderia neutralizar a necessidade de criação da CPMF.
"Esta é uma posição que eu particularmente defendo, que nós deveríamos
aprovar o repatriamento. Esse deveria ser o nosso plano A", disse.
"Quando o governo está bem, com uma base social forte, uma base
parlamentar forte, já é difícil aprovar uma medida como essa. Imagina
num momento como este que estamos passando por algumas dificuldades. Mas
vamos trabalhar e vamos ver", disse. Na noite desta terça-feira, os
senadores petistas Delcídio Amaral e Walter Pinheiro se reuniram com o
ministro Levy para trabalhar pontos da articulação com o Congresso.
Já a oposição vem afirmando nos bastidores que a receptividade da
CPMF entre o empresariado, ao contrário do que prega o ministro Joaquim
Levy, foi péssima - e que o principal temor do setor produtivo é o
aumento dos custos devido ao efeito cascata, caso a nova tributação seja
aprovada. Segundo o senador tucano Aécio Neves, o governo foi desleal
ao tentar repartir o ônus político do novo imposto com governadores, ao
sugerir o direcionamento uma fatia da CPMF aos estados. Na
segunda-feira, Aécio disse que o novo imposto era "inaceitável".
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